“Este não é apenas mais um livro sobre José de Alencar e sua obra. Invertendo perspectivas e paradigmas crítico-teóricos, Valéria Bezerra mostra que o reconhecimento nacional desse escritor não foi independente de sua circulação internacional, e nem mesmo da presença de obras internacionais no campo nacional. De forma mais ampla, este estudo deixa claro que os escritores pertencentes aos campos literários nacionais “dominados”, caso quisessem concorrer no ambiente literário mundial, precisavam integrar o processo de nacionalização de grandes textos universais, por meio de, ao menos, duas maneiras: traduzindo obras estrangeiras em sua língua, dentro de uma literatura que pretendia ganhar em tradição; traduzindo a literatura brasileira no exterior, em busca de legitimação junto às instâncias internacionais. Como explica a autora, se o sucesso dos escritores estrangeiros entre os leitores brasileiros do século XIX representou um forte desafio para o desabrochar e para a expansão da literatura nacional, isso, por sua vez, ofereceu elementos para que José de Alencar e outros escritores distinguissem os aspectos que permitiam o reconhecimento no exterior, visto que o conceito de “literatura brasileira” só faz sentido em confronto com outras literaturas nacionais, mas dentro de um campo de trocas internacionais. Os literatos compreendiam a necessidade premente de conjugar esforços nacionais a um movimento literário mundial no qual se destacavam línguas e lugares hegemônicos. Nesse caso, o esforço de constituição dos textos da literatura brasileira e da ideia de literatura nacional, por José de Alencar ou por seus pares, não pode ser pensado fora da circulação de livros e de leituras, de modo geral, pois a presença de livros estrangeiros, originais e traduzidos gerava tensões e impasses para impressos e escritores brasileiros. Tudo isso lê-se em detalhes neste livro, na avaliação dos investimentos editoriais paralelos em relação aos textos brasileiros e estrangeiros; na análise da divulgação da literatura brasileira no exterior e de sua recepção na imprensa europeia; na consideração da internacionalidade do conceito de nacionalidade, entre outros. No seio de um projeto de pesquisa mais abrangente, fontes renovadas entraram na elaboração deste trabalho: catálogos de livreiros, contratos, anúncios, críticas e outras tipologias textuais dos jornais, em uma busca incessante por uma nova compreensão da história da literatura brasileira a partir do prisma da intervenção e da militância de José de Alencar no debate de ideias, além de sua invenção literária.”
Lúcia Granja (UNESP)