“Na segunda metade do século XX, a arte, ao entrar em contato com aquilo que ela não é, torna-se precária, assemelhando-se à vulnerabilidade da vida. Expondo-se ao outro e aos sistemas de poder que organizam a vida, a arte exibe uma fragilidade, uma incerteza em sua própria expressão”. É nesses termos que o teórico de arte Luiz Cláudio da Costa situa o problema ético-artístico do precário como afirmação da experiência vital e daquilo que nos torna afetável com a arte.
Como a arte produz imagens da precariedade? Para responder tal questão, A condição precária da arte se inicia com ensaios em que analisa imagens da vulnerabilidade da vida presentes em obras dos anos 1960 e 1970, como as de Lygia Clark, Hélio Oiticica, Lygia Pape, Artur Barrio, Anna Bella Geiger e Paulo Bruscky, para chegar a uma possível teoria da arte para o século XXI com estudos monográficos de artistas como Márcia X, Dalton Paula, Rosana Paulino, Leila Danziger, Paulo Nazareth, Mathieu Pernot e Fernando Bryce.
Para Luiz Cláudio da Costa, a autossuficiência da obra, a forma e a vida construída, presentes em certo modernismo, são transformadas na arte contemporânea a partir da ideia de que o corpo é suscetível, vulnerável, ao outro. É no corpo que se dá o contato, o atravessamento, a experiência da transitoriedade, da participação, da incerteza, da incompletude. Para ele, pensar a arte neste âmbito implica pensar a insuficiência da obra. Desse modo, na arte, o corpo em relação produz deslocamentos no imaginário da precariedade, como imagens da vida, assim como a ressignificação da forma, que, por essa perspectiva, envolve o próprio processo e tende a falhar.
A maneira como trata da condição precária da arte, assunto central deste livro, evidencia a sutileza e originalidade de sua abordagem. A precariedade pode, sim, falar sobre as práticas artísticas no século XXI, tanto quanto ser considerada um novo conceito de existência, como enunciado por Lygia Clark desde 1963, mas, para Luiz Cláudio, a questão é compreender: “Na prática artística desde então, a precariedade diz respeito à força da falha que move o desejo, deslocando representações e demandando do outro um gesto, uma ação, um ato da imaginação. Nesse sentido, a precariedade estética alça dimensão política”.
Christine Mello