“Deriva” reúne poemas escritos ao longo dos últimos dois anos, num projeto que partiu de uma reflexão sobre as ilhas (cabe dizer, que a autora começou a escrever o livro na Nova Zelândia e terminou em Cuba), sobre estar à deriva de variadas formas – no mundo, dentro das fronteiras de um país, na intimidade de um corpo. Há no livro uma ideia de dispersão, de busca metafórica de porto e de âncora, mas também a celebração da liberdade que pode estar por trás de todo não saber.
“Inúmeras são as entradas e saídas pelas veias (vias, vaus, vagas) abertas deste conjunto de poemas de Adriana Lisboa. Uma travessia em que se podem nomear (como sugere a epígrafe de Rosalba Campra) “sizígias e eclipses e marés que deixam a descoberto velhos naufrágios”. Uma odisseia às avessas, já que os grandes acontecimentos em Deriva, em contraste com os de Homero, podem ser mínimos, magros, “de carnadura digamos plebeian size”. A voz que salta é uma cicatriz no espelho embaçado da escotilha, um corte (de um continente), uma ilha, um coágulo de água, um caroço na transparência dos signos, um grão de sal e mostarda, um dissenso, um alerta, um protesto (para não dizer que não falei de gérberas em outubro de 2018) um mantra ao encontro do nada, um navio em chamas após uma louca jornada.”
Trecho do posfácio de Raquel Abi-Sâmara