Após 9 anos desde a publicação de seu último livro de poemas “Os corpos e os dias” (finalista do Prêmio Jabuti, em 2008), Laura Erber retorna aos versos com o livro “A Retornada”. Diferente do que ocorria no livro anterior em que Erber associava seu trabalho de artista visual (fotografias) aos versos, desta vez as imagens emergem de dentro dos poemas, provocando sensações ambíguas que a escrita trata de registrar. Artista plástica, romancista, ensaísta e professora universitária, as produções de Laura são visivelmente marcadas pelo atravessamento recíproco entre suas várias áreas de atuação, trazendo o que poderíamos chamar de “um efeito sinestésico”, cuja apreensão não é nada imediata ou evidente. Este é o caso de “A Retornada”, cujos versos são marcados pela evocação visual, como se estivéssemos diante de um pequena coleção de obras plásticas. A imagem neste livro é também um motivo de interrogações e dúvidas, algo que inquieta o olhar e move a escrita. Como bem coloca a poeta Lu Menezes em seu texto de orelha: “(…) em terreno sem lisura de “sentido”, crivado por pontos cegos sujeitos a súbita refulgência”.
Laura Erber retorna ainda à uma experiência limiar, do “olhar a morte nos olhos” como diria Pasolini, e do desafio que um tal confronto coloca à escrita. “A Retornada” está igualmente marcado pela intertextualidade. É um livro de conversas tensas, onde as epígrafes têm um papel e um peso especial. Alguns poemas são construídos como espécie de resposta possível aos versos de poetas eleitos como propositores ou fantasmas amigáveis. O volume se abre com a pergunta-verso de Sylvia Plath da qual Erber se apropria e parece responder de diferentes maneiras ao longo do livro: “Posso escrever poemas? Por uma espécie de contágio?”. De Heiner Müller ela toma como provocação o trecho: “As imagens significam tudo a princípio. São sólidas. Espaçosas”. Os versos de Laura parecem seguir, justamente, “por uma espécie de contágio”, deixando-se intoxicar ou se curar pelas vozes de Marina Tsvetaiéva, Ghérasim Luca, Mallarmé, Ted Hughes, Agnès Varda e muitos outros, revelando seus pares e espelhos que, obviamente estilhaçados, nos devolvem uma constelação de outras tantas possibilidades.