por Andrea Ledo e Alencar Fráguas Perdigão, da Quixote Livraria
Uma das acepções da palavra “relicário” é: lugar próprio para guardar relíquias. A nossa participação, em nome da Quixote Livraria, neste blog não viria em melhor momento, pois a comemoração do aniversário de 8 anos da Relicário Edições nos remeteu imediatamente a tal conceito, que soa mais do que adequado para definir essa editora tão parceira e querida. Talvez a história de nossos laços ainda seja muito pouco conhecida –– por isso também é um prazer para nós poder contar fragmentos dela por aqui.
A livraria como útero
Há exatos dezoito anos, a Quixote nasceu com o propósito de propiciar à cidade de Belo Horizonte um espaço de troca de conhecimentos e afetos, um útero onde pequenos e grandes sonhos pudessem ser criados, manifestados e reconhecidos. Tais sonhos se materializaram de diversas formas – uma delas foi o desenvolvimento de editoras que, como nós, amam livros e o que eles representam. Imaginem, então, nossa felicidade ao ver a Relicário nascer e crescer com seu catálogo e seu público? Ao rememorarmos essa trajetória, acabamos por constatar a sua importância para nossa própria biografia.
O primeiro livro editado pela Relicário foi Personagens conceituais – Filosofia e arte em Deleuze, de Fernando Tôrres Pacheco, também o primeiro livreiro da Quixote. A partir de então, os livros editados pela Relicário eram lançados conosco. Além do prazer em lançar edições feitas com tanto cuidado como O nervo do poema, Fundo falso, Cinema de brincar e Experiências metodológicas em textualidades midiáticas, nutrimos larga admiração pela Maíra Nassif, que criou, geriu e manteve a Relicário sozinha durante quase todos esses anos.
Novos habitantes
Com o passar do tempo, a Relicário cresceu. Chegaram autores interessantíssimos, como Audre Lorde, Lina Meruane, Alejandra Pizarnik, Jacques Rancière e Diamela Eltit. As publicações daquele primeiro momento e o presente catálogo apenas comprovam nossas impressões de outrora: uma editora dedicada a fazer circular “obras-relicários”. Também, textos de autoras e autores da cena mineira tiveram a chance de serem publicados pela primeira vez graças à Relicário, bem como escritoras e escritores nunca antes editados no Brasil, como a argentina Sara Gallardo.
Hoje a Relicário conta com uma equipe muito especial e apaixonada pelo ofício, o que faz dela uma editora ainda mais interessante e plural. Escrever esse texto, registrar esse afeto, é também importante para expressarmos nossa gratidão à Equipe Relicário. Não fosse ela, não teríamos em mãos a Coleção Nos.Otras e a Coleção Marguerite Duras – só para citar exemplos de obras e autoras que tanto aguardávamos!
Poderíamos descrever, ainda, uma gama de situações que presenciamos no decorrer desses anos, provenientes do encontro com tais obras – o que só nos uniu mais. O ofício de livreiro é, nesse sentido, uma espécie de estado de graça. Mas, deixemos que as obras falem por si.
Viva a Relicário! Vivam as editoras e livrarias! Vivam os livros, profissionais do livro e leitores!
Andrea Ledo é formada em Letras pela PUC-Minas e livreira da Quixote.
Alencar Fráguas Perdigão, livreiro e proprietário da Livraria Quixote, conhece livros como ninguém. Dom Quixote, Miguel de Cervantes, é o seu livro de cabeceira e O estrangeiro, de Albert Camus, é o livro que mais leu na vida.
A FOFOCA COMO IMPULSO DE LEITURA Por Ieda Magri Parece que em outras vidas fui uma fofoqueira: expus vidas alheias, usei coisas que sabia dos outros a meu favor, pelo menos foi o que me garantiu uma astróloga que consultei recentemente. Isso me fez pensar nas fofoqueiras todas da minha adolescência e então desconfio daquilo …
De vários anos para cá, cursos e obras sobre o que se costumou chamar de “escrita criativa” ganharam espaço não apenas nas universidades, inclusive com a oferta de pós-graduações específicas, mas em espaços livres e independentes de criação literária, na forma de oficinas esporádicas e workshops itinerantes. A “escrita criativa” está relacionada, em especial, com …
A TIJUCA ANTES DA TIJUCA por Rafael Freitas da Silva Há dias soube que o bairro da Tijuca, o melting pot do Brasil, conhecido por seus artistas, morros, escolas de samba e onde fica o famoso estádio do Maracanã, fez aniversário e comemorou 262 anos de existência. Nascido, criado e morador desta parte ilustre …
ZONA CINZA Em seu novo livro, o professor e pesquisador Victor Hermann apresenta uma percepção de catástrofe e de que modo a literatura e as artes visuais catalisam sua elaboração. Hermann traça uma cartografia da Zona Cinza em seus acidentes, metáforas e catástrofes. Muita gente sabe do risco de catástrofe ou até mesmo foi agredida …
COLUNA LIVRE
CONHECIMENTOS & AFETOS
por Andrea Ledo e Alencar Fráguas Perdigão, da Quixote Livraria
Uma das acepções da palavra “relicário” é: lugar próprio para guardar relíquias. A nossa participação, em nome da Quixote Livraria, neste blog não viria em melhor momento, pois a comemoração do aniversário de 8 anos da Relicário Edições nos remeteu imediatamente a tal conceito, que soa mais do que adequado para definir essa editora tão parceira e querida. Talvez a história de nossos laços ainda seja muito pouco conhecida –– por isso também é um prazer para nós poder contar fragmentos dela por aqui.
A livraria como útero
O primeiro livro editado pela Relicário foi Personagens conceituais – Filosofia e arte em Deleuze, de Fernando Tôrres Pacheco, também o primeiro livreiro da Quixote. A partir de então, os livros editados pela Relicário eram lançados conosco. Além do prazer em lançar edições feitas com tanto cuidado como O nervo do poema, Fundo falso, Cinema de brincar e Experiências metodológicas em textualidades midiáticas, nutrimos larga admiração pela Maíra Nassif, que criou, geriu e manteve a Relicário sozinha durante quase todos esses anos.
Novos habitantes
Com o passar do tempo, a Relicário cresceu. Chegaram autores interessantíssimos, como Audre Lorde, Lina Meruane, Alejandra Pizarnik, Jacques Rancière e Diamela Eltit. As publicações daquele primeiro momento e o presente catálogo apenas comprovam nossas impressões de outrora: uma editora dedicada a fazer circular “obras-relicários”. Também, textos de autoras e autores da cena mineira tiveram a chance de serem publicados pela primeira vez graças à Relicário, bem como escritoras e escritores nunca antes editados no Brasil, como a argentina Sara Gallardo.
Hoje a Relicário conta com uma equipe muito especial e apaixonada pelo ofício, o que faz dela uma editora ainda mais interessante e plural. Escrever esse texto, registrar esse afeto, é também importante para expressarmos nossa gratidão à Equipe Relicário. Não fosse ela, não teríamos em mãos a Coleção Nos.Otras e a Coleção Marguerite Duras – só para citar exemplos de obras e autoras que tanto aguardávamos!
Poderíamos descrever, ainda, uma gama de situações que presenciamos no decorrer desses anos, provenientes do encontro com tais obras – o que só nos uniu mais. O ofício de livreiro é, nesse sentido, uma espécie de estado de graça. Mas, deixemos que as obras falem por si.
Viva a Relicário! Vivam as editoras e livrarias! Vivam os livros, profissionais do livro e leitores!
Andrea Ledo é formada em Letras pela PUC-Minas e livreira da Quixote.
Alencar Fráguas Perdigão, livreiro e proprietário da Livraria Quixote, conhece livros como ninguém. Dom Quixote, Miguel de Cervantes, é o seu livro de cabeceira e O estrangeiro, de Albert Camus, é o livro que mais leu na vida.
Posts relacionados
COLUNA EXPERIMENTO ABERTO
A FOFOCA COMO IMPULSO DE LEITURA Por Ieda Magri Parece que em outras vidas fui uma fofoqueira: expus vidas alheias, usei coisas que sabia dos outros a meu favor, pelo menos foi o que me garantiu uma astróloga que consultei recentemente. Isso me fez pensar nas fofoqueiras todas da minha adolescência e então desconfio daquilo …
Sobre “Escrever sem escrever”, de Leonardo Villa-Forte | Por Ana Elisa Ribeiro
De vários anos para cá, cursos e obras sobre o que se costumou chamar de “escrita criativa” ganharam espaço não apenas nas universidades, inclusive com a oferta de pós-graduações específicas, mas em espaços livres e independentes de criação literária, na forma de oficinas esporádicas e workshops itinerantes. A “escrita criativa” está relacionada, em especial, com …
COLUNA PINDORAMA
A TIJUCA ANTES DA TIJUCA por Rafael Freitas da Silva Há dias soube que o bairro da Tijuca, o melting pot do Brasil, conhecido por seus artistas, morros, escolas de samba e onde fica o famoso estádio do Maracanã, fez aniversário e comemorou 262 anos de existência. Nascido, criado e morador desta parte ilustre …
COLUNA LIVRE
ZONA CINZA Em seu novo livro, o professor e pesquisador Victor Hermann apresenta uma percepção de catástrofe e de que modo a literatura e as artes visuais catalisam sua elaboração. Hermann traça uma cartografia da Zona Cinza em seus acidentes, metáforas e catástrofes. Muita gente sabe do risco de catástrofe ou até mesmo foi agredida …