Fantasia ou fantasma? Essa é uma discussão imperdível, presente já na abertura deste livro que foi elaborado pouco antes da publicação, em 2024, do Seminário 14 de Jacques Lacan, A lógica do fantasma. Na sequência, poderemos acompanhar o caminho percorrido pela autora através da obra de Freud, do ensino de Lacan e da leitura de Jacques-Alain Miller, o que põe em evidência a relação particular que o fantasma mantém com o prazer e o gozo. O sujeito se entrega comumente a devaneios e também se satisfaz pensando, imaginando, projetando-se em um determinado cenário. No processo analítico, trata-se de, a partir disso, localizar, construir e atravessar o fantasma dito fundamental, que é inconsciente e delimita toda a vida mental do sujeito. Lacan inventou uma fórmula para esse fantasma, na qual se destaca a fixação e a fascinação do sujeito em relação ao objeto a, o que se opõe à dialética do desejo e à dinâmica do sintoma.
Aqui, Virgínia Carvalho busca não apenas demonstrar o trabalho clínico que se faz em uma análise – de construção, redução e travessia do fantasma –, como também destacar a importância da leitura do sintoma e de sua interpretação mais além do sentido, tendo em vista a captura do real impossível, ou seja, uma certa delimitação dos restos sintomáticos – aqueles que subsistem mesmo após o final de uma análise e que Lacan nomeou como sinthoma. “O mecanismo da criação poética é o mesmo das fantasias estéticas”: eis uma indicação de Freud, presente em uma de suas cartas a Fliess, que constitui um verdadeiro guia para que a autora conclua que, mais além da travessia do fantasma, há um trabalho de escrita poética no final da análise, que se pode extrair dos testemunhos de passe.
Ana Lydia Bezerra Santiago e Jésus Santiago