Ao longo destas páginas, o leitor descobrirá o que acontece em nossos dias no consultório de um psicanalista, quando este aceita acolher pacientes psicóticos. Não há voyeurismo aqui, mas o testemunho de uma experiência única fundamentada numa ética da palavra.
Num momento em que o discurso sobre a loucura tende a desaparecer, juntamente com o tratamento humanitário e social que prevaleceu por muito tempo, este livro é uma prova viva de que há pelo menos um lugar onde o indivíduo pode expressar seu sofrimento e, a partir disso, iniciar um trabalho para construir uma solução que simplesmente lhe permita viver. De fato, para cada caso, o psicanalista é levado a inventar um dispositivo adequado que leve em consideração tanto as exigências do Outro com o qual o sujeito está lidando quanto o prazer que está em jogo para ele.
A milhas de qualquer objetivo normalizador que visa erradicar o que está errado, o analista é um ourives que coloca no cerne da dinâmica da experiência o real próprio do sujeito. De tal leitura, não se sai ileso, descobre-se em que consiste uma existência, muitas vezes com muito pouco, alguns detritos, uma palavra inventada, uma imagem construída…
Demonstra-se que um tratamento da loucura é possível, um a um. Ele encontra seu fundamento na experiência inaugural que Freud inventou há mais de um século com pacientes neuróticos, e que Jacques Lacan fundamentou em razão. É essa bússola que aqui orienta a prática.