Nostalgia formal, de Davis Diniz
É mais fácil imaginar o fim da arte contemporânea do que debater os vitalismos poéticos na era do capitalismo tardio? Partindo dessa questão, reescrita por Davis Diniz aqui em tom paródico em relação àquilo que Mark Fisher (1968-2017) apontava como o fatalismo neoliberal imposto a nós pelo capitalismo tardio, este livro revisa o conceito de “nostalgia formal” para reescrevê-lo como possibilidade de vitalismos poéticos característicos deste princípio de século XXI.
Estaríamos imersos em um cenário de poéticas inoperantes em que nada mais poderá se apresentar sob a forma de uma criação vitalista? Ou, pelo contrário, haveria alguma residualidade de estéticas disruptivas, entre nós, não de todo estéreis? E, portanto, mesmo em âmbito das nostalgias formais, não mais (ou sim) se encontrariam produções dinamizadoras do campo literário contemporâneo? São algumas das interpelações feitas pelo autor deste ensaio investigando ações literárias emergentes nas últimas décadas, a exemplo de Anne Carson, Ana Martins Marques, Gabriela Cabezón Cámara, Amara Moira, entre outres.
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Crônica sobre a literatura atual (2010-2024), de Pedro Kalil
Como adentrar a literatura atual? A pergunta que abre o texto de Pedro Kalil vai buscar como solução provisória o andarilhar pelo e ao longo dos textos literários produzidos nos últimos quinze anos, no Brasil e além. Ao apostar na literatura, o autor investiga traços comuns, coincidências, formulações e formas que podem ser encontradas na atualidade.
Sem partir de uma premissa teórica geral, mas (des)metodológica, são as mais de uma centena de obras que vão convocar chaves de leitura, abrindo frestas para se pensar as práticas artísticas de hoje. Assim, espaços literários, temporalidades, fotografias, arquivos, doenças, línguas e linguagens, músicas, memórias e outras elaborações são discutidas a partir de fragmentos que imaginam a paisagem literária da atualidade.
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Mineração do outro: fotografia e fabulação numa palestra-performance, de Flávia Péret
“Vasculho uma caixa de papelão entulhada de fotos”. É a partir dessa imagem performática da memória, enunciada na primeira pessoa do singular, que somos convocados a entrar no texto de Flávia Péret e acompanhá-la em sua peregrinação. Busca-se, a partir do acervo fotográfico do pai, uma história particular e coletiva, encoberta há tantos anos, um segredo guardado dentro do corpo (e das minas) e que evoca tantos outros corpos, anônimos, também, adoecidos pela febre do ouro e pela sanha, incessante, da mineração.
Um texto duplo, entre o ensaio e a ficção, e que investiga o dispositivo palestra-performance ao mesmo tempo que o realiza. Flávia Péret não encena apenas o encontro entre o pai e a fotografia, mas, também, entre a filha e os retratos do pai, ao narrar a descoberta (e o aprendizado) de uma nova língua.
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Experiências do cinema brasileiro em diálogo com Hélio Oiticica (1968-1972), de Theo Costa Duarte
A partir do fim dos anos 1960, cineastas como Glauber Rocha, Júlio Bressane e Neville D’Almeida buscaram em seus trabalhos se aproximar de formas, conceitos e proposições provenientes das artes visuais, tendo Hélio Oiticica como principal interlocutor. O pesquisador Theo Duarte trata desses diálogos neste ensaio por meio de uma detida análise de filmes pouco conhecidos desses realizadores, respectivamente Câncer (1968-1972), Lágrima-Pantera, a Míssil (1971) e Mangue Bangue (1971), mobilizando também para esse fim entrevistas, cartas e demais escritos desses artistas.
O autor examina como na negação das convenções do mercado cinematográfico e alheios à censura, esses filmes instauraram inventivas poéticas do instante e do gesto, do espontâneo e do inacabado. Poéticas que se mostraram porosas às vicissitudes do seu tempo, seja o clima alegre e tenso, de comunhão e violência das agitações políticas e culturais do período, seja a atmosfera de dilaceração e temor nas experiências de marginalidade e exílio.