“O arco de questões tratadas neste livro de Serge Margel, fruto de conferências proferidas no Brasil, é bastante amplo: o papel do cinema na revolução tipográfica da poesia, e por outro lado, simetricamente, a arqueologia do cinema encontrada na poesia, os corpos vitrificados nas vitrines das passagens, e as lojas de departamento, todo o corpo de questões propostas pela modernidade fantasmagórica entrevista por Walter Benjamin em “Paris, a capital do século XIX”; o cinema etnográfico de Jean Rouch e a câmera antropófaga, devoradora de duplos; o arquivo, o testemunho, o artefato museográfico, o trauma não registrado do tráfico de escravos no contexto colonial, a etno-ficção de Édouard Glissant. Todos estes temas têm a sua intercessão no fantasma ou espectro, gravado em uma memória exterior, técnica de escrita, rastro, marca, sinal, traço grafado em um suporte. Escritas-cripta, criptogramas, a escrita cifra uma morte que vem assombrar a vida dos vivos, eles próprios vivendo cada vez mais através da morte que os habita.”
João Camillo Penna
Sobre o autor: Serge Margel é pesquisador do Fundo Nacional Suíço de Pesquisa Científica, professor da Escola de Arte e Design de Genebra e professor da Escola Prática de Altos Estudos de Paris. Ele se dedica, especialmente, a pensar o desdobramento da metafísica no contexto do mundo atual e o tema da alienação nas sociedades modernas. Autor de uma obra extensa, da qual pode-se destacar, entre muitos títulos: Le tombeau du dieu artisan. Commentaire du Timée de Platon (Minuit, 1995); Corps et âme. Descartes. Du pouvoir des représentations aux fictions du Dieu trompeur (Galilée, 2004); Archives fantômes. Recherches anthropologiques sur les institutions de la culture (Leiris, Bataille et la revue Documents) (Lignes, 2013); L’autonomie de l’oeuvre d’art. Poétique et esthétique des avant-gardes (MAMCO, 2017).